23 março 2017

Processo de Mudança - Parte 1

"Progresso" 

É hora de mudar!
O progresso chegou
Como uma invasão
Atropelando histórias e tradições,
Partindo corações,
Arrancando árvores
Sem lugar para lembranças e recordações.
Um comércio vazio,
Externo,
Onde o dinheiro fala mais alto.
É o mundo contemporâneo
Esvaziado de sentido,
Esvaziado de amor.
As cores já não são as mesmas,
Os sons agora ultrapassam os limites do respeito,
uma nova forma de se viver é imposta!

O ponto tradicional do acolhimento,
O espaço agradável para conversas,
O local sagrado que te faz sentir bem,
Se torna refém desta (r)evolução.
Onde não há respeito,
Impera o egoísmo!
Até mesmo o templo sagrado
Que fica aqui do lado
É invadido pelo som
Do comércio apelativo.
A casa do Divino,
As histórias e tradições,
A vida construída e vivida
Precisam dar lugar para o progresso avançar!
É hora de mudar!
Aqui não é mais nosso lugar.
O tempo andou,
Tudo mudou
É preciso um lugar
Onde possa acolher o bem estar
E com o que há de mais sagrado e me faça sentido caminhar...


Saphyra (Cristiane Wilson) - Setembro 2016

04 novembro 2014

Romênia... Ah! A Romênia!

Romênia... Ah! A Romênia!

Depois de 10 dias na Sérvia é chegado o momento de mais uma vez "levantar o acampamento", refazer as malas e partir... um trajeto complexo, de Guca um ônibus para Belgrado, em Belgrado a espera do carro de viagem que nos levará para Romênia, o carro que não é o carro, nos leva ao carro que de fato nos levará a Timisoara (Romênia). No carro: o motorista, a minha amiga francesa e mais duas moças. Passamos pela fronteira, alguma solicitação de documentos e desconfiança, que fica a critério do motorista discutir, enfim, passamos e seguimos viagem até chegar a estação de trem de Timisoara (Romênia), com muita dificuldade na comunicação, conseguimos nossas passagens destino a Deva onde o irmão da Braia (minha acolhedora) estará a nossa espera para nos levar a Mintia.



O trem! Sim, este é o nosso trem! Em nossa cabine, apenas mulheres, meninas novas. O silêncio, um pouco de medo, mas a confiança de que "quando a gente viaja a providência divina toma conta" (nunca me esqueço quando a Clara, minha acolhedora na Turquia, me disse isso). No caminho, muitas imagens, meus pensamentos viajam e por um momento me sinto dentro daquele filme que me inspirou estar lá, "Latcho Drom".



Ao chegar, a frase "te aven bartali" faz Braia se emocionar e me dá um abraço acolhedor e aponta para a porta do meu quarto, que me recebe com a bandeira do Brasil, a mesma que segue os dias carinhosamente na mão das crianças.



Os 4 dias que convivi com esta família, me pareceram meses, foram tantas conexões, tantos aprendizados que não me caberiam aqui descrever. Na casa, Braia, seu marido e dois filhos, o seu irmão solteiro, o seu irmão casado (que estava sem a esposa) com o filho (um cigano romeno alemão), seu outro irmão com a  esposa e o filho. A casa sempre cheia,o tempo todo chegando mais e mais gente. Faltou apenas um irmão, que vive na Suíça e casou-se por lá. 


Pude vivenciar o seu cotidiano...
O que é viver naquele lugar, naquela pequena cidade? O que é ser cigano na Romênia? Como é andar pelas ruas do centro sendo cigano?

Como se vestem? Como lidam com o "preconceito"? Como convivem? Como sobrevivem? O que pensam?

Foram 4 dias recheados de muito diálogo. Como?!
Braia, sem estudo, fala romeno, romanês, pouco de inglês, francês e um pouco de espanhol. Seu irmão (que vive na Alemanha) fala romeno, romanês, inglês, francês, italiano, alemão, espanhol. Como assim?! Aprende-se pela televisão ou viajando a trabalho. São 2 meses aqui, 2 meses alí....



As primeiras aulas de dança na Romênia, nesta pequena cidade, Florin nos recebe. E sinto como se pela primeira vez eu estivesse tento uma aula de dança cigana. O foco continua sendo os pés. Expressão individual? Liberdade? Alma? Isso não é falado em aula, mas fala-se de sangue! E vejo o que é natural, como as crianças aprendem espontaneamente, e isso confirma a minha crença do aprendizado pela convivência, pela observação, no estar e pertencer aquele meio desde a infância, isso faz muita diferença para quem deseja fazer a reprodução fiel de uma dança! Caso contrário, somente a consciência corporal e técnicas podem te aproximar daquela maneira de se dançar.
Se eu estou aqui para aprender uma maneira diferente de se dançar a dança cigana, também desperto a curiosidade deles: "Mas tem cigano no Brasil?", "Como se dança no Brasil?", "Como os não ciganos querem dançar a dança cigana?", E, a cada nova platéia que vem assistir a aula da estrangeira, é preciso mostrar a minha dança!


No último dia em Mintia, na casa da Braia, uma visita inesperada, o primo com a família (esposa e dois filhos) vieram para passar o dia... Acho que vivo cenas muito parecidas no Brasil e de novo o meu pensamento "tudo igual, mesmo sendo diferente". Chegou visita! Supermercado, compras, comida... Conversas que seguem a noite toda. Fica tarde, amanhã é dia de partir cedo, preciso "levantar mais um acampamento" e seguir para Targu Mures, em busca do melhor grupo de dança cigana da Romênia. A família passa a noite por aqui e pela manhã seguirá sentido Targu Mures também, ganho uma carona e mais uma vez o sentimento de acolhimento. Sinto-me parte daquela família, que faz de tudo para me agradar.



Na estrada, paradas turísticas e as paradas para ver carro, carros antigos e o desejo de trocar o carro, comprar um maior para levar a família toda de lá para cá. Mihai pergunta: "Seu noivo gosta de carros?", eu respondo sim. E ele: "sabe porquê?! Porque ele é cigano". Me sinto tão longe, mas tão perto, tento traduzir estes momentos em fotos, que não conseguem captar muito mais do que imagens. Ainda na estrada, me sinto parte de mais um filme que me motivou estar lá, Gadjo Dilo, neste caso: Gadji Dili.








Chegando em Targu Mures, outra aula, outra região, um estilo um tanto diferente. Iosif Buta, me recebe em um estúdio de dança, acompanhado de um amigo, o tradutor. Uma aula com pausas para o cigarro, Ok, é preciso ter muita paciência. Iosif me promete mais dois dias de aula, mas desaprece e só me dá um retorno quando já estou no Brasil. É preciso paciência, claro, estou tratando com cigano, uma postura profissional muito diferente de outros profissionais da dança, que me servem para aprender mais e mais.





Um final de semana para descobrir Targu Mures, onde encontrei um lugar para passar o meu tempo livre, Piata Tandafirilor (praça das rosas), uma arquitetura húngara, numa região de grande influência húngara, onde no cardápio você encontra a opção romena e húngara, onde muitas pessoas falam romeno e húngaro, e o inglês é raro. Lá, sento e observo, meu tempo para assimilar aquele local, as pessoas e nesta observação ser frequentemente surpreendida pelas cores ciganas que atravessam as ruas e se cruzam com diferentes pessoas, assim convive-se com a ciganidade romena.


É chegado o dia da aula com uma das integrantes do Romafest o melhor grupo de dança cigana da Romênia. Não é só lábia, eles são realmente incríveis! O grupo de homens não estará pela Romênia neste período, mas algumas das garotas sim! O líder do grupo me dá todo amparo, mesmo a distância, organiza tudo para mim, mas aquilo que aparentemente tinha mais estrutura, se transformou em uma das minhas maiores experiências. Seu irmão que vem para organizar a aula com uma dançarina, me recebe no hotel, me encaminha a uma sala de aula gigantesca dentro de um Centro Cultural a espera da dançarina que me ensinará. O primeiro problema: não tem música. Espero por mais de 30 minutos que ele retorne com a música, ele chega acompanhado de sua mãe, uma senhora morena, de olhos verdes e que na falta da garota começa a dançar comigo, tem uma dança diferente de tudo que já vi, um movimento de pés diferente e com uma velocidade incrível! A garota não aparece e sou encaminhada a vila onde eles moram, lá uma outra garota me aguarda para me ensinar. Deixamos aquela ampla sala de aula do

centro cultural para dançar na entrada de uma casa, com algo semelhante a uma cozinha do lado de fora da casa (mesa, geladeira, fogão) e na rua todos os moradores da vila vem para assistir a estrangeira dançar (cena que me remete de novo ao Gadjo Dilo). Ok! Esta experiência me vale muito mais, dançamos, dancei com ela, com sua mãe e ainda tive a oportunidade de ver sua filhinha dançar e de novo compreender sobre o ensino/aprendizado da dança de um povo onde aprende-se simplesmente por ser e estar.
E mais uma vez, a troca de informações, as curiosidades se repetiram: "Mas tem cigano no Brasil?", "Como você sabe alguma coisa de romanês?",  "No Brasil não usam saia curta?",  "Cigano no Brasil é ladrão?", e claro, "Dance! Queremos ver"...Ok! A grande platéia se prepara e danço a minha dança..."shukar!"



Enfim, foram muitas experiências... andar pelas ruas e a todo instante "tropeçar" em ciganos, aqueles que ainda vestem suas roupas tradicionais, antigas, e aqueles que acham besteira manter costumes e julgar o outro pela roupa que veste, todos falam e entendem o romanês, a grande maioria dança muito bem e muitos dançam incrivelmente bem e outros não dançam. Cenas de brigas familiares pelas ruas que merceiam um registro, cenas altamente dramáticas assim como de filmes, assim como na vida real. As casas, altamente decoradas do lado de dentro, uma digna casa de cigano, porém com banheiros que desencorajam qualquer um a entrar, algo pior do que vivi na Índia... Foram muitos aprendizados, em dança, em cultura cigana e para vida. Mas na hora de voltar sinto um vazio, está faltando algo, talvez na dança ou no todo, não sei... Sei que de todas as minhas viagens esta me trouxe a bagagem cheia (de experiências) sim, com muitas novidades para a dança, mas anda sim encontro este vazio porque sei que a Romênia ainda tem muito a me oferecer!






Saphyra Cristiane Wilson
Romênia - Agosto 2014

27 outubro 2014

Sérvia (e depois Romênia...)

Sérvia (e depois Romênia...)

Já fazem dois meses que cheguei desta minha última viagem, mas foram tantas informações, tantas fichas que precisavam cair, que, unidas aos compromissos que me esperavam por aqui somente hoje consegui respirar e ter um tempo real para refletir e escrever sobre esta experiência na Sérvia e Romênia.

Foto: Mery Osuna
Como todas as minhas idas, tudo foi se encaixando e os ventos favorecendo para eu ir. As oportunidades surgem e a nós cabe aproveitá-las! Tudo começou com o convite para o Curso de Verão de Danças Ciganas com a bailarina sérvia Simona Jovic, que seria realizado em Belgrado, 25 horas de aula de danças ciganas + o contexto, o local, que é o que mais me interessa ao sair do Brasil.

Há muito tempo tenho tido a certeza de que estar no local, vivenciar o todo da região onde exatamente aquela dança que busco acontece, me faz incorporar esta maneira de dançar, faz com que meu corpo absorva mais facilmente os movimentos,  além de adquirir a qualidade de movimento necessária para reproduzir com a maior proximidade possível a dança pretendida. Não sei qual foi o chamado maior: as aulas, a Sérvia, o festival que acontece exatamente na data em que estaria lá ou a localização geográfica, por fazer fronteira com a Romênia.

Enfim, lá fui eu, em dois meses tomei a decisão de ir para Sérvia  com a condição de seguir para Romênia na sequência. Enquanto organizava, produzia e coreografava o meu festival anual, Encontro Precioso de Danças Étnicas, eu planejava a viagem, e dois dias após o Festival finalizei os preparativos e fui, sem tempo para repensar ou arrepender, ou fazer as contas para saber se realmente poderia ficar 1 mês fora, tudo isso pode ser visto depois e para tudo se dá um jeito. Fui!

Em Belgrado, na Sérvia, as aulas com a Simona Jovic foram interessantes e me serviram para dar segurança no trabalho que venho seguido há anos, existe algo semelhante em nossos trabalhos, mas em nosso país, que há tempos apresenta uma dança cigana muito própria, estas informações ainda podem ser chocantes. Com isso confirmei ainda mais a necessidade de eu persistir nesta linha de trabalho e, atendendo uma necessidade brasileira, contextualizar sempre o que está sendo feito, o que tenho apresentado e, principalmente, o que tenho trazido de novo. Aqui se faz necessário apresentar este contexto, apresentar que outras maneiras de se experienciar a dança cigana são possíveis, o fundamento é necessário quando se pretende apresentar algo contraditório de tudo que se vê.
Parte das alunas com Simona Jovic
O que mais me encantou nestas aulas foi estar ao lado de pessoas de diferentes partes do mundo, com
Foto de Mery Osuna
diferentes histórias de vida e propósitos nesta viagem de dança, pessoas da França, Canadá, Grécia, Espanha, Finlândia e Brasil. Observar estes diferentes corpos absorvendo diferentes ritmos, diferentes trabalhos corporais, muitos deles nunca antes experienciados, foi magnífico! Como cada corpo respondeu, como cada corpo se colocou a executar (ou não) os movimentos aprendidos quando nas noites tínhamos os músicos tocando nos restaurantes. Este meu lugar observador, foi o maior aprendizado.

Todo grupo - Foto: Mery Osuna
Além das aulas, fizemos vários 'tour' por Belgrado, esta foi minha primeira viagem com grupo e com uma pessoa (a Simona Jovic) cuidando de tudo, transporte, reservas, etc. Por um lado esta comodidade pode ter sido positiva, mas por outro lado, senti falta de eu mesma descobrir a Sérvia, de eu ter o meu tempo em observar algo, de sair do caminho e poder encontrar algo novo, de poder ter a autonomia de optar por jantar em outro restaurante que, de repente, a música esteja me agradando mais, mas ok! Tive a experiência de viajar em um grupo, que temos um "guia" e que de certa maneira veio a calhar, já que eu não teria tempo suficiente para ver todos estes detalhes, transporte, mapas, locais, etc...eu estava envolvida na produção de um grande festival, organizando tudo que ficaria por aqui em andamento durante minha ausência e paralelamente cuidando das inscrições da vinda da própria Simona Jovic para cá, logo após esta viagem. Além, de que, não me preocupar com os detalhes da Sérvia, me deram espaço e tempo para pensar, descobrir e organizar toda Romênia, onde não teria ninguém "cuidando" para mim.

De todo 'tour' em Belgrado, a música tocada pelos ciganos em diversos restaurantes foi o que mais me chamou a atenção, o som cigano bálcã sempre me agradou muito.



De um grupo de 20 com a "guia" Simona, partimos para Guca em 5 e sem guia. Guca, uma pequena cidade da Sérvia, recebe milhares de pessoas para o maior festival de Gypsy Brass Band, onde o melhor da música bálcã circula pelas pequenas ruas, nos restaurantes e no grande palco que espera eleger a melhor do festival. Uma mistura de sons, poluição sonora que nunca experienciei nada igual (nem na Índia, nem na 25 de março), o som mecânico em altíssimo volume se mistura com aquele vindo dos trompetes, e o que parece ser a maior atração nesta Woodstock Balkan é a bebida alcoólica. Mulheres com poucas roupas fazem uma "dança do ventre" altamente vulgar que nada alimentaram minha dança, vi algo bem distante do "tradicional" em uma triste decadência.

Mas, em Guca, além da boa música vista o tempo todo nos palcos da grande arena e alguns grupos folclóricos, pude ver e participar de diversas rodas de Kolo, assim que a música própria para dança era ouvida, pessoas de diferentes idades se juntavam numa grande roda e pessoas que nunca se viram, davam-se as mãos e dançavam juntos esta dança conhecida por todos na Sérvia. Na grande arena com milhares de pessoas a espera da atração musical, pude ver do alto, várias rodas se formando e, sim, Kolo é coletivo.


Das 5, ficamos em 2. De Guca um trajeto complexo, umas 15 horas em trânsito...ônibus, carro, trem... para chegar à Romênia, que merece uma outra postagem...

Saphyra Cristiane Wilson
Sérvia - Agosto 2014

25 março 2014

Uma dança denominada "cigana"

Uma dança denominada "cigana"


Estudar, investigar ou experimentar as danças ciganas é...
Mergulhar em diversas culturas,
Viajar o mundo, sem precisar sair do lugar,
Sair do lugar através do movimento, do corpo...
Sair da zona de conforto e experimentar novas possibilidades de movimento,
E descobrir as diferentes qualidades dele, em busca de uma reprodução fiel do que se propõe a fazer.
É considerar o fator tempo-espaço, observando e absorvendo o contexto sociocultural (e político) em que a dança acontece.

Pode parecer complexo, mas é necessário se localizar, reconhecer o seu lugar em meio a um universo tão amplo que abrange o povo cigano, sua cultura e sua dança.

Percebe-los enquanto etnia é...
Ampliar o olhar e enxergar muito além do horizonte,
Não se fixar em uma única verdade,
Reconhecer que a dança cigana é composta por muitas verdades e inverdades...

Não basta deixar o seu corpo fluir,
Mas reconhece-lo e saber 'como' ele deve fluir...
É afinar os ouvidos e fazer a música reverberar através do movimento.
Em qual movimento?!
Aquele que a música exige e vem de mãos dadas com toda uma história, com uma estética, com uma maneira de se dançar envolta de gestos que identificam uma dança, sejam eles simbólicos ou não, mas que carregam a identidade de um povo.
Uma história que ao se encontrar com a sua, se transforma.
Até onde deixar esta transformação tomar conta da sua dança sem que se perca a principal essência do que se propôs a fazer?
Até que ponto pode-se transformar e continuar denominando esta dança como dança cigana?

Usar o rótulo "dança cigana" nos prende a uma maneira de se dançar, mas...
Se preferir,
Liberte-se deste rótulo e deixe-se levar, dance a sua dança, mas distancie-se das palavras "cigana", "autêntico", "tradicional" e entregue-se a liberdade, a exploração de movimentos, emoções, sensações e só a chame de cigana se possuir fundamentos convincentes que a identifique como tal.

Saphyra (Cristiane Wilson)
De um lado, pesquisadora das danças ciganas, aquela que busca a reprodução fiel dos movimentos reproduzidos em cada contexto e de outro lado, intérprete-criadora, aquela que acredita na busca de uma dança própria, na liberdade de criação e exploração de movimentos...
Na defesa do uso de uma denominação ideal para cada trabalho, para cada dança, para cada momento.
E a questão: Qual a sua dança?

Escrito por Saphyra Cristiane Wilson em 25/03/2014

10 janeiro 2013

Dançando para comunicar


Dançando para comunicar

Enquanto resgato o material sobre mudras e abhinayas para o curso de férias de janeiro 2013, me deparo com muita informação guardada e riquíssima, que ficou guardada em livros, cadernos, anotações de aula e no meu corpo, na minha memória e coração. Agora, organizo tudo isso para passar da maneira mais produtiva para o outro, noto tamanha importância deste estudo, que pode ser aplicado em qualquer dança, arte e atividades do cotidiano.
Momento de reflexão...


O que você pensa quando dança?
Onde está sua mente enquanto dança?
O que e como você quer comunicar com sua dança?
Afinal, para que dançar se sua dança não disser nada?!

"Onde as mãos vão, os olhos devem seguir
Onde os olhos vão, a mente deve seguir
Onde a mente vai, as emoções são geradas
Onde as emoções são geradas, o sentimento surge"

(Natyashastra - tratado de dança e teatro indiano)

Foto: a notável mestra de abhinaya Kalanidhi Narayanan
E repito: ...quero que minha dança diga algo, ela grita querendo ser ouvida...

Saphyra (Cris Wilson)
10/01/2013

30 outubro 2012

Turquia, a dança e a minha dança


Minha viagem para Turquia começou pelo convite da Marah, uma aluna-amiga que estaria indo para lá acompanhar o marido em um congresso. Não precisou convidar pela terceira vez que eu aceitei na segunda tentativa.

Uma viagem mágica, repleta de experiências.
Andar pelas ruas da Turquia é viver o tradicional e o moderno, é perceber que o antigo e o novo podem caminhar juntos no mundo contemporâneo.

A minha viagem sempre começa muito antes, quando mergulho na internet em busca de contatos, endereços e quase que como um detetive encontro pérolas que terão muito a me ensinar, neste momento já vou me conectando com a cultura local e me preparando para o que vou encontrar.

Eu sabia que uma nova onda de modismo vinda das novelas globais com autoria de Glória Peres estava por vir, mas não foi este o meu maior motivo. Não fui à Turquia movida pela novela Salve Jorge e sim para realizar parte das minhas pesquisas em danças ciganas pelo mundo, o material que eu encontraria lá era algo que me faltava. Tive aulas com pessoas maravilhosas, cada uma delas contribuiu a sua maneira para eu absorver e incorporar a dança cigana turca da minha maneira.  

Com Reyhan Tuzsuz
Em Istambul tive aulas com Reyhan Tuzsuz, linda, simpática, alegre e amigável foi com quem passei mais horas estudando. Naci Songur, músico que ensina danças folclóricas turcas e música para crianças em um Centro Cultural, me deu uma boa noção de ritmo e suas aulas me auxiliaram na compreensão do ritmo cigano turco, conhecido por 9/8. 


Eu, Marah e Naci Songur

Ainda em Istambul, o encontro com uma das lendárias bailarinas de dança do ventre, Princess Banu, com mais de 35 anos de experiência e que ainda guarda o glamour de ter sido uma bellydancer superstar. Uma aula de dança do ventre estilo turco, enriquecida por conversas sobre a dança do ventre egípcia e turca, as diferenças no seu ponto de vista. Mais interessante do que a aula foi o encontro com esta personalidade e a maneira de se dançar, de se ensinar, que ainda carrega conceitos antigos e que nos fazem refletir sobre a dança atual.


Paisagens da Capadócia

De Istambul para Capadócia, outro universo. Uma paisagem que sou incapaz de traduzir em palavras, mas que guardo a sensação de vivencia-la. Lá o contato com mais duas ciganas, com maneiras de dançar muito próprias, ampliaram o meu olhar acerca da dança cigana turca e o modo de vida cigano no Turquia. O medo de “ser cigano”, o preconceito para com esta comunidade na maioria pobre e a indiferença paralela à importância deles para a música e dança turca.


Foto 1: Saphyra, Clara e Marah com Sami e Filiz - Avanos
Foto 2: Cigana Nuran dançando - Kayseri

Clara Sussekind e Saphyra
Tudo fluiu da melhor forma nesta viagem e tudo foi se encaixando e organizando que aconteceu melhor do que eu planejei. O contato com a bailarina brasileira Clara Sussekind, que vive e dança na Capadócia foi mais um presente. De tudo que planejei para Turquia, ainda prorroguei minha estada lá por mais 10 dias, quando fiquei dançando no restaurante Harmandali no lugar da Clara enquanto ela vinha para o Brasil para a festa de estreia da novela Salve Jorge e gravações de mais cenas para ela. Por um lado, dançar na Capadócia, me renderia algum dinheiro que deixei de ganhar no Brasil no período da viagem e me ajudaria com parte dos gastos deste investimento, mas conquistei muito mais do que isso, foi uma grande experiência e um reconhecimento profissional que eu não esperava. Substituir a Clara Sussekind não é uma tarefa fácil, além de ser uma graça dançando, ela é muita querida na Capadócia. Senti uma tremenda responsabilidade, mas fiquei muito feliz em saber que fiz um bom trabalho.
Saphyra dançando em Harmandali restaurante - Uçhisar - Capadócia

Para falar sobre minha estada e dança na Turquia renderiam muitas e muitas páginas, pois são muitas histórias para contar, muitas experiências vividas, muita coisa aprendida... Por isso, fico por aqui.

Saphyra - Cristiane Wilson
30/10/2012

15 junho 2012

Quando danço... (por Natália Parzanese)



Quando danço ...

Quando danço, meus pés tocam o chão, enquanto minha alma sente o solo.
Quando danço me conecto ao "meu peculiar" universo.
Quando danço, os movimentos correspondem a liberdade da minha alma.
Quando danço reconheço a mim mesma.
Quando danço sinto o toque do amor mais forte, pulsando nas minhas veias que saltam a pele.
Quando danço o suor são lágrimas expulsas da dor da vida.
Quando danço meus músculos se travam, enquando minha alma se liberta.
Meus pés tocam o chão, mas meu íntimo quem o faz dançar.
E tão forte é meu esforço físico, para que agrade com leveza aos olhos de quem vê.
E quantos são os dias a desafiar, a me desafiar em movimentos novos. E quão gratificante é superar.
Quem dança, encara a vida de uma forma diferente. Quem dança vive a vida em um bailado, às vezes intenso, leve, forte, dramático, romântico, doce ...
Quem dança se redescobre, 
descobre. Sejam os pés leigos,profissionais,amantes ... Apenas : Dance !!! 
Viva essa liberdade de flutuar como uma criança pura,e inocente ! Dance, Dance, Dance !!!

Massssss ! Ahhhhh aqueles dias ... Os movimentos não acontecem !!!! Mais que grande droga!!! Você olha o espelho, ele te olha ... e ... Errei ! .... Olha, te olha, olha, te olha, olha, te olha ( Arritmia ,suor excessivo,calor ) ... CONSEGUI ! E as nossas fases? Nossas crises ? Eu amo a dança ( Onde quer que esteja, seu pensamento só quer dançar, seja qual for a música é criado um cenário, um sentimento, uma dança ) ... A crise do "tempo parado" ! Do tempo perdido! Do estrelismo,da paixão ... e da rotina ! DESISTIR, RECOMEÇAR, VOLTAR ... Ahhhh dançar ! 


"Eu danço com o coração,não com a ponta dos meus pés".

Escrito por Natália Parzanese

em 15/06/2012  (com 8 meses de prática de dança do ventre e 2 aulas de dança indiana)

"Este é o caminho" (Saphyra Cristiane Wilson)