27 outubro 2014

Sérvia (e depois Romênia...)

Sérvia (e depois Romênia...)

Já fazem dois meses que cheguei desta minha última viagem, mas foram tantas informações, tantas fichas que precisavam cair, que, unidas aos compromissos que me esperavam por aqui somente hoje consegui respirar e ter um tempo real para refletir e escrever sobre esta experiência na Sérvia e Romênia.

Foto: Mery Osuna
Como todas as minhas idas, tudo foi se encaixando e os ventos favorecendo para eu ir. As oportunidades surgem e a nós cabe aproveitá-las! Tudo começou com o convite para o Curso de Verão de Danças Ciganas com a bailarina sérvia Simona Jovic, que seria realizado em Belgrado, 25 horas de aula de danças ciganas + o contexto, o local, que é o que mais me interessa ao sair do Brasil.

Há muito tempo tenho tido a certeza de que estar no local, vivenciar o todo da região onde exatamente aquela dança que busco acontece, me faz incorporar esta maneira de dançar, faz com que meu corpo absorva mais facilmente os movimentos,  além de adquirir a qualidade de movimento necessária para reproduzir com a maior proximidade possível a dança pretendida. Não sei qual foi o chamado maior: as aulas, a Sérvia, o festival que acontece exatamente na data em que estaria lá ou a localização geográfica, por fazer fronteira com a Romênia.

Enfim, lá fui eu, em dois meses tomei a decisão de ir para Sérvia  com a condição de seguir para Romênia na sequência. Enquanto organizava, produzia e coreografava o meu festival anual, Encontro Precioso de Danças Étnicas, eu planejava a viagem, e dois dias após o Festival finalizei os preparativos e fui, sem tempo para repensar ou arrepender, ou fazer as contas para saber se realmente poderia ficar 1 mês fora, tudo isso pode ser visto depois e para tudo se dá um jeito. Fui!

Em Belgrado, na Sérvia, as aulas com a Simona Jovic foram interessantes e me serviram para dar segurança no trabalho que venho seguido há anos, existe algo semelhante em nossos trabalhos, mas em nosso país, que há tempos apresenta uma dança cigana muito própria, estas informações ainda podem ser chocantes. Com isso confirmei ainda mais a necessidade de eu persistir nesta linha de trabalho e, atendendo uma necessidade brasileira, contextualizar sempre o que está sendo feito, o que tenho apresentado e, principalmente, o que tenho trazido de novo. Aqui se faz necessário apresentar este contexto, apresentar que outras maneiras de se experienciar a dança cigana são possíveis, o fundamento é necessário quando se pretende apresentar algo contraditório de tudo que se vê.
Parte das alunas com Simona Jovic
O que mais me encantou nestas aulas foi estar ao lado de pessoas de diferentes partes do mundo, com
Foto de Mery Osuna
diferentes histórias de vida e propósitos nesta viagem de dança, pessoas da França, Canadá, Grécia, Espanha, Finlândia e Brasil. Observar estes diferentes corpos absorvendo diferentes ritmos, diferentes trabalhos corporais, muitos deles nunca antes experienciados, foi magnífico! Como cada corpo respondeu, como cada corpo se colocou a executar (ou não) os movimentos aprendidos quando nas noites tínhamos os músicos tocando nos restaurantes. Este meu lugar observador, foi o maior aprendizado.

Todo grupo - Foto: Mery Osuna
Além das aulas, fizemos vários 'tour' por Belgrado, esta foi minha primeira viagem com grupo e com uma pessoa (a Simona Jovic) cuidando de tudo, transporte, reservas, etc. Por um lado esta comodidade pode ter sido positiva, mas por outro lado, senti falta de eu mesma descobrir a Sérvia, de eu ter o meu tempo em observar algo, de sair do caminho e poder encontrar algo novo, de poder ter a autonomia de optar por jantar em outro restaurante que, de repente, a música esteja me agradando mais, mas ok! Tive a experiência de viajar em um grupo, que temos um "guia" e que de certa maneira veio a calhar, já que eu não teria tempo suficiente para ver todos estes detalhes, transporte, mapas, locais, etc...eu estava envolvida na produção de um grande festival, organizando tudo que ficaria por aqui em andamento durante minha ausência e paralelamente cuidando das inscrições da vinda da própria Simona Jovic para cá, logo após esta viagem. Além, de que, não me preocupar com os detalhes da Sérvia, me deram espaço e tempo para pensar, descobrir e organizar toda Romênia, onde não teria ninguém "cuidando" para mim.

De todo 'tour' em Belgrado, a música tocada pelos ciganos em diversos restaurantes foi o que mais me chamou a atenção, o som cigano bálcã sempre me agradou muito.



De um grupo de 20 com a "guia" Simona, partimos para Guca em 5 e sem guia. Guca, uma pequena cidade da Sérvia, recebe milhares de pessoas para o maior festival de Gypsy Brass Band, onde o melhor da música bálcã circula pelas pequenas ruas, nos restaurantes e no grande palco que espera eleger a melhor do festival. Uma mistura de sons, poluição sonora que nunca experienciei nada igual (nem na Índia, nem na 25 de março), o som mecânico em altíssimo volume se mistura com aquele vindo dos trompetes, e o que parece ser a maior atração nesta Woodstock Balkan é a bebida alcoólica. Mulheres com poucas roupas fazem uma "dança do ventre" altamente vulgar que nada alimentaram minha dança, vi algo bem distante do "tradicional" em uma triste decadência.

Mas, em Guca, além da boa música vista o tempo todo nos palcos da grande arena e alguns grupos folclóricos, pude ver e participar de diversas rodas de Kolo, assim que a música própria para dança era ouvida, pessoas de diferentes idades se juntavam numa grande roda e pessoas que nunca se viram, davam-se as mãos e dançavam juntos esta dança conhecida por todos na Sérvia. Na grande arena com milhares de pessoas a espera da atração musical, pude ver do alto, várias rodas se formando e, sim, Kolo é coletivo.


Das 5, ficamos em 2. De Guca um trajeto complexo, umas 15 horas em trânsito...ônibus, carro, trem... para chegar à Romênia, que merece uma outra postagem...

Saphyra Cristiane Wilson
Sérvia - Agosto 2014

Nenhum comentário: