16 fevereiro 2011

Dança do Ventre: seguindo a moda!

Dança do Ventre: seguindo a moda!

Foto: Saphyra (Cris Wilson)

 
Até hoje me lembro do show que me fez encantar pela dança do ventre, foi em meados dos anos 90, bailarinas glamorosas com roupas belíssimas, com muito brilho, muito pano, muita franja, muito peso, véus em organza cristal enfeitados com “pastilhas” douradas por toda volta. Um show de feminilidade, beleza e alegria, havia uma “energia” inexplicável que se espalhava no ar.

Em aproximadamente 15 anos muitas coisas mudaram! Bailarinas vestem-se com roupas que cada vez tem menos tecidos e franjas, e o “clean” toma conta do modismo, a dança segue um padrão, assim como os cortes de cabelos e acessórios para ela, movimentos caem em desuso e a cada dia uma nova dança do ventre vai surgindo. O que não é ruim, mas somente se isto condiz com a sua verdade.

O que eu conheci como dança do ventre quase não aparece em muitas performances atuais. Onde está a execução dos movimentos que fazem parte de sua essência? Por que reproduzir movimentos que não te pertencem somente porque estão “na moda”? Se determinados movimentos não te pertencem, não pertencem à sua dança, ao seu modo de dançar, acabam tornando-se apenas uma cópia vazia e sem sentido.

De que adianta reproduzir tal movimento se ele não te toca, não está em você? E qual é a sua dança, a sua marca, o seu diferencial em meio a todos estes movimentos reproduzidos em série por tantas bailarinas?

Entristece-me hoje ver bailarinas tecnicamente perfeitas, mas vazias de amor, de emoção, de verdade! Raramente vejo as individualidades, são todas iguais.

O que é démodé (fora de moda) para a dança? Será que estou fora dos padrões atuais porque ainda curto dançar com um véu de organza cristal em alguns momentos? Será que estou fora porque uso a roupa que me faz sentir bem, que cai bem para o meu corpo e favorece minha dança? Será que estou fora de moda porque nem sempre quero dançar os hits do momento? Resgatar músicas antigas e mal gravadas nas minhas fitas K7 é muito arcaico?

Como profissional eu posso me adaptar às necessidades de um show para atender a uma ocasião especial, mas em que momento eu vou me sentir realmente artista se não dançar o que fala mais alto dentro de mim?

Posso estar sendo nostálgica, posso estar parecendo “careta”. Eu não quero que a arte fique estagnada, acredito mesmo que tenha que evoluir, apoio o estudo constante e aperfeiçoamento com outras profissionais, mas creio que é preciso cuidado com as transformações, é necessário valorizar as raízes e respeitá-las. Conhecê-las e experimentá-las para então da sua maneira transformar, dar a sua “cara” para aquele mesmo movimento executado há muitos anos. E o que fazer com aquele movimento? Acredito que você mesma deveria descobrir.

Porém, há quem não queira arriscar e prefira seguir uma moda ou padrão, há quem busque a atualização priorizando a técnica, há quem busque workshops internacionais somente para acrescentar ao seu currículo, mas por outro lado também há quem busque um encontro consigo através da dança, que busque um autoconhecimento, que busque a sua verdadeira essência ao se movimentar, que busque o conhecimento externo em workshops com profissionais que realmente toque sua alma. E há ainda aquelas que sabiamente conseguem unir técnica, emoção e individualidade e muito mais, nos encantando, nos emocionando com sua dança que de fato brota de dentro para fora.

Ainda bem que temos opção de escolha, cada um pode buscar o que fala mais alto dentro de si. Estamos falando de dança, estamos falando de arte... E cada um tem o direito de escolher o seu caminho. Viva a diversidade!

Saphyra (Cris Wilson)

www.saphyra.com.br
cristiane@saphyra.com.br